[Figura-1] Flor do Barbatimão |
Existem várias espécies de plantas
que são popularmente denominadas de barbatimão, entre as quais se encontra Dimorphandra
mollis e algumas espécies do gênero Stryphnodendron. A espécie D.
mollis tem o nome popular de falso barbatimão. É uma planta característica
de cerrado e de ocorrência freqüente no interior dos Estados de São Paulo, Mato
Grosso e Minas Gerais. Nessas regiões, por ocasião do florescimento dessas
espécies tem sido observada uma grande mortalidade de abelhas em apiários,
sugerindo que o pólen seja responsável pelo efeito tóxico. Esse fenômeno é
conhecido pelos apicultores como "mal de outono". O presente trabalho
foi realizado no Centro de Estudos de Insetos Sociais da Unesp – Rio Claro, no
período de agosto de 1999 até julho de 2001. Teve por objetivo avaliar o efeito
tóxico de extratos, obtidos a partir de diferentes partes da planta (flores,
pedúnculo, folha e caule primário e tardio) sobre operárias de Apis
mellifera. Para isso, os extratos foram incorporados em dieta alimentar e
oferecidos às abelhas confinadas em pequenas caixas em laboratório. Os extratos
metanólicos das flores, pedúnculos florais e caule apresentaram efeitos tóxicos
sobre operárias. A partir do extrato das flores (contendo antera com grãos de
pólen) e dos pedúnculos florais foi possível isolar e identificar uma
substância química conhecida como astilbina, que é um flavonóide. Após o
isolamento, a substância pura foi avaliada em operárias confirmando os efeitos
tóxicos. Nos extratos dos caules primário e tardio além da astilbina foram
encontrados também taninos. Em uma análise comparativa, foi possível verificar
quimicamente que o macerado de anteras com grãos de pólen contém astilbina como
um dos seus compostos principais.
[Figura-2] Flor do Barbatimão |
A relação entre insetos e plantas
existia antes do surgimento de plantas com flores (angiospermas), que eram
utilizadas pelos insetos como fonte alimentar (ZWÖFLER, 1982). Embora sejam bem
conhecidos os efeitos de alguns inseticidas vegetais como a nicotina, rotenonas
e piretrinas, pouco se sabe sobre outras toxinas de origem vegetal que
interferem na vida dos insetos (BUENO et al., 1990).
Estudos realizados
na Índia (Darang) mostraram que colônias de abelhas Apis mellifera
apresentavam mortalidade da cria em outubro, quando os arbustos de chá (Camellia
tea) estavam florescendo. As larvas tornavam-se amarelas e morriam,
emitindo um odor desagradável. Larvas alimentadas em laboratório com o néctar
das flores do chá demonstraram os mesmos sintomas. No entanto, larvas
alimentadas com o néctar diluído desenvolveram–se normalmente (SHARMA, RAJ e
GARG, 1986).
LORENZI (1992), em
sua obra de referência sobre as plantas arbóreas nativas do Brasil, aponta dois
tipos de barbatimão: o barbatimão verdadeiro, Stryphnodendron adstringens,
e o barbatimão-de-folha-miúda ou barbatimão falso, Dimorphandra mollis.
Apesar de pertencerem a gêneros diferentes, ambas as espécies apresentam
período de florescimento muito próximo.
Estudos realizados
com o gênero Dimorphandra apresentaram, segundo DOBEREINER et al.
(1985), efeito nefrotóxico em gado. Os efeitos clínicos-patológicos de D.
gardneriana foram muito similares aos causados por D. mollis. As
vagens causaram a morte em dois indivíduos, que receberam 30g/Kg de peso
corpóreo, enquanto 20 g/Kg de peso corpóreo provocavam somente efeitos brandos
de envenenamento.
ALVES et al.
(1996), realizaram estudos do efeito de extrato aquoso da inflorescência de
barbatimão (S. adstringens) na longevidade de abelhas africanizadas.
Metade da população controle sobreviveu aproximadamente o dobro do tempo,
quando comparado com os grupos testes.
A cria ensacada é
uma doença causada por vírus e afeta principalmente as larvas de abelhas. No
Brasil, nas regiões de cerrados foi possível verificar sintomas semelhantes
dessa doença nas larvas, no entanto, nenhum vírus ou outro patógeno pode ser
detectado (MESSAGE et al., 1995).
Por outro lado,
estudos realizados por CARVALHO (1998) e CARVALHO et al. (1998), mostraram que
essa doença ocorre na mesma época do florescimento do barbatimão (S.
polyphyllum) e que, fornecendo pólen dessa planta na dieta de larvas de
operárias em laboratório, os mesmos sintomas eram reproduzidos.
Em função dos
sintomas serem semelhantes e a doença não ser causada pelo vírus, MESSAGE
(1997) passou a denominar essa doença no Brasil como Cria Ensacada Brasileira.
Posteriormente, SANTOS e MESSAGE (1998) verificaram que alimentando larvas de
abelhas em laboratório com ácido tânico, os sintomas da doença também podiam
ser reproduzidos e, então sugeriram que os taninos normalmente encontrados em
grande quantidade no barbatimão, seriam os causadores da Cria Ensacada
Brasileira.
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