Apicultor
durante colheita do mel em Vilhena, Rondônia. Brasil estuda impacto de
agrotóxicos neonicotinoides na apicultura (Foto: Juarez Bruno/Divulgação)
Brasil
estuda impacto dos neonicotinoides na apicultura nacional. Europa proibiu
produtos por dois anos; EUA analisam impacto nos insetos
Está
em discussão no Brasil a possível proibição de defensivos agrícolas
neonicotinoides, produtos sob suspeita de serem nocivos para abelhas, insetos
que têm registrado um aumento da taxa de mortalidade em diversas partes do
mundo.
O
governo alega que não há motivo para pânico no país, mesmo após a decisão da
União Europeia em proibir por dois anos a comercialização desses agrotóxicos e
receber notícias alarmantes de mortes de abelhas nos Estados Unidos.
No
fim de abril, a UE votou por implantar uma moratória de dois anos, valendo
a partir de julho, para este grupo químico de inseticidas, que emprega
compostos como a clotianidina, a imidacloprida e o tiametoxam. A decisão foi
tomada mesmo com manifestações contrárias do setor agrícola, que alega não
haver dados suficientes sobre o impacto destes produtos nas populações de
abelhas.
Já
os Estados Unidos, que também analisam o emprego desses compostos, divulgaram
no começo de maio que quase um terço das abelhas de colônias morreu no
último inverno (2012-2013) e, nos últimos seis anos, as taxas de mortalidade
atingiram 30,5%. A exposição a inseticidas é uma das hipóteses avaliadas pelo
Departamento de Agricultura do país.
De acordo com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), apesar de preocupante, a situação do Brasil não é alarmante.
Segundo
Marcio Freitas, coordenador geral de avaliação de substâncias químicas do Ibama,
a possível relação do uso dos neonicotinoides (que tem origem na molécula de
nicotina) com as mortes de abelhas começou ser discutida internacionalmente
partir de 2008.
Há
três anos o instituto investiga o impacto de inseticidas na apicultura nacional.
Entre 2010 e 2012, identificou mais de cem casos de mortes em massa de abelhas
pelo país, e todas elas estariam relacionadas à pulverização de agrotóxicos.
Prejuízo na economia
Em 19 de julho de 2012, uma portaria publicada no “Diário Oficial da União” proibiu temporariamente a pulverização de defensivos com clotianidina, imidacloprida e tiametoxam por via aérea, até que uma reavaliação dos produtos fosse feita.
Porém,
explica Freitas, por ser prejudicado com a medida, o setor agrícola do país,
incluindo o Ministério da Agricultura, se mobilizou contra a decisão, que
foi alterada por uma nova portaria, desta vez publicada em janeiro deste ano. A
regra também valia para o fipronil.
Ainda
segundo Freitas, apesar de o Brasil utilizar os mesmos tipos de agrotóxicos
empregados na Europa e nos EUA, a decisão de seguir o caminho da União
Europeia, vetando de vez os produtos, causaria um impacto muito maior na
agricultura brasileira. Para ele, a Europa tem uma quantidade muito menor de
insetos e, por isso, a percepção da redução ficou amplificada.
Resultados sobre a reavaliação dos compostos químicos devem ser divulgados até o fim do ano, segundo o Ibama. Inicialmente, apenas a imidacloprida está em análise. Ao mesmo tempo, o Ministério da Agricultura pesquisa compostos alternativos para substituir defensivos agrícolas neonicotinoides.
Risco para a polinização
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), estima-se que 73% das espécies vegetais cultivadas no mundo sejam polinizadas por alguma espécie de abelha.
Em
termos globais, os serviços de polinização prestados por estes insetos – seja
no ecossistema ou nos sistemas agrícolas — são avaliados em US$ 54 bilhões por
ano.
De
acordo com José Gomercindo Correa da Cunha, presidente da Câmara setorial do
Mel no Ministério da Agricultura, a mortalidade de abelhas preocupa várias
entidades e os produtores de mel, que são cerca de 350 mil.
‘Celeiro do mundo’
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um aumento no uso de agrotóxicos entre 2000 e 2009, quando a relação de quilos por hectare aumentou de 3 kg para mais de 3,5 kg. Em 2010, o país ultrapassou a marca de um milhão de toneladas, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Em
2008, o Brasil se destacou como o maior consumidor do produto no mundo,
respondendo por 86% da quantidade de agrotóxico vendida na América Latina.
Entre
os agrotóxicos mais usados no país destacam-se os herbicidas (71,1%), os
inseticidas (66,4%) e os fungicidas (55,3%).
De
acordo com Ricardo Camargo, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, a atual
prática agrícola do Brasil oferece risco a todos os animais polinizadores
(insetos, aves e mamíferos).
“Não
há prática sustentável, mas sim aplicação massiva de defensivos, com muita gente
usando doses acima dos limites permitidos e materiais que já foram banidos em
outros países”, explica.
“Toda
a biodiversidade está sendo prejudicada quando se passa um pesticida, que pode
tentar matar um agente, mas pode impactar o seu redor. Usa-se muito a
informação de que o Brasil é o celeiro do mundo, mas a que preço estamos
nisso?”, complementa o pesquisador.
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